terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Este não é homem, é moleque.

Diário do Pai
Data Paterno Filial 645.399

Várias vezes que compartilho alguma coisa sobre negligência parental (em geral sobre atraso de pagamento de pensão), tem gente que vem correndo na minha postagem comentar que aquele cara não é homem, é menino (moleque). Embora ainda achasse rasa está comparação, ela era até valida. Mas, meu caro, vou dizer que após o nascimento do meu filho, esta definição mudou muito, muito mesmo, e a abrangência do menino aumentou.
O período de gravidez, deixei de fazer muita coisa (por escolha própria) para assessorar esposa e bebê que ainda nem tinha nascido. Nem imaginava que esta fase fosse tão facil para um relacionamento a dois comparado ao puerpério e o período em seguida (sim, o puerpério é um inferno, mas vale a minha postagem anterior, prefiro ele ao hospital). E tudo se tornou ainda mais difícil no momento que voltei a trabalhar (licença paternidade devia ser de, pelo menos, 6 meses, piada estes 20 dias). A volta ao trabalho mudou a rotina de casa de forma brutal, ainda mais no meu caso, professor universitário (aulas manhã e noite praticamente todo dia). Adivinha? Comecei a sair antes do bebê acordar e chegava depois do bebê dormir e a mãe cair de exausta. Opa, posso dormir... Nada, lá vou eu para cozinha, fazer comida e lavar roupas do bebê (juro que todo dia não dava, nestes dias pedia comida bo aplicativo para esposa). Preparava perto de 0h a mamada de meia noite e vira e mexe, passava um pano na casa mesmo sem luz ideal (- Não precisava, você precisa descansar...- ela também ora bolas). E me cobrava por não estar fazendo mais. Ficava (fico) repensando muito o fato de quanto era difícil para mim estar tanto tempo longe do meu filho e minha esposa. Todo dia recebo uma enxurrada de fotos e vídeos dele que minha esposa me manda e penso que estou perdendo a melhor fase dele (deve ser por isso que não largo ele no fim de semana, carrego até para o mercado sem a mãe... No colo, nada de carrinho). Mesmo assim, sinto que neste momento não consigo mudar a rotina, mas com certeza preciso fazer estas coisas do lar pois, se eu estou exausto, a patroa está muito mais.

 Portanto, se o cara somente trás dinheiro para dentro de casa no maior modo provedor de ser, se contenta em fazer nada doméstico por estar cansado e reclama da panela vazia, não é homem, é menino.

 "Então sua esposa te ama (sim, assim como eu a ela) e você é o marido perfeito (vocês inocentemente vão dizer, ledo engano)". Esquece, mesmo que fosse o marido perfeito e atendesse todas necessidades, ainda temos os fatos, a ela não dorme direito desde o 1o mês da gestação, todo sono é picotado, restrição total da vida, represamento da pessoa ao bebê (e eu insistindo com ela para sairmos um pouco, "deixa a casa assim que você precisa passear", depois damos um jeito), a exterosimbiose em nível elevado, peito a cada 3 horas (meu filho é naturalmente regrado, ao contrario do pai), peito a cada dorzinha, pedido de colo da mãe em 80-90% das vezes (ta começando a diminuir, mas ainda vai demorar) etc. Acha que isso não vai cansa-la? Vai. E é aqui, neste cenário que se diferencia um homem de um menino.

Sua companheira vai falar sob efeito deste cansaço profundo, vai falar coisas que ela não quer dizer para ti, que talvez nem concorde (totalmente), mas acredite, vai ferir seu ego. Coisas que em um estado condições normais de temperatura e pressão (sem o cansaço meu caro, vindo em sobriedade), acabariam com um casamento.

Mas não são condições normais. Esqueça, não seja injusto respondendo. Provavelmente sua fala machucará muito mais a ela do que seu ego ferido. 

Não são condições normais. Simplesmente como ela está, as dificuldades que ela está passando frente as suas, ao invés de criar uma crise na vida a dois, respire e siga em frente. 

Ouça-a, é difícil, mas ouça, capture no meio da fala o que você precisa melhorar (existe, acredite) e faça. É recompensador para você, mas principalmente, para ela.

Aqui se separa o homem do menino, o menino esperneia e vai embora, por não entender a situação da companheira. O homem afaga, ouve e sabe que este é apenas o momento mais complicado de todo relacionamento, a prova mais forte da vida a dois, e faz sua parte para que o mesmo de certo. O menino volta para a segurança de seu mundo material solteiro. O homem, carrega no colo o peso de entender que aquilo é relacionamento/casamento. E se ouvir algo que machuque, não promova uma briga, não propague violência verbal devido ao ego.

Hoje, a diferença entre homens e meninos não está mais nos limites das postagens das redes sociais. Se não incluir, troca de fralda, acordar de madrugada, dar banho no bebê, levar na consulta médica, saber idade do filho, tamanho da roupa, tomar vacina, entre várias outras atividades (nem listei as tarefas do lar), não é homem, é só moleque mesmo.



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