segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Liberdade Paterna

Diário do Pai
Data Paterno.Filial 658.412

Como vocês devem saber, existe um movimento conhecido como ChildFree no mundo, onde defendem diretamente um ambiente sem crianças, entre outras coisas. Entendo o movimento, concordo que possam existir locais onde não se tenha crianças (alguns por motivos óbvios) e acho que quem não deseja ter filhos tem todo direito de fazê-lo e ser pleno por isso. Mas claro que todo grupo tem militantes que falam sem pensar ou entender e escrevem coisas que não tem sentido ou, até mesmo, atrapalham a militância. 

Outro dia me deparei exatamente com uma destas frases que dizia: "Quando você estiver desanimado, lembre-se que você não tem filhos e é livre." Desculpe, eu ri, afinal, o que é ser livre? Repensei minha vida de solteiro, casado e casado com filho e entendi algo que muitos filósofos (principalmente orientais) pregam, de que a liberdade é estado de espírito (excluindo casos históricos de privação física por favor).

A frase denotava um ponto de vista bizarro, de que filhos são uma prisão, sem eles você é livre, com eles você não tem mais liberdade. Tendo filhos, sair a noite se torna complicado pois não tem com quem deixar. Quando tem, mesmo assim você fica com telefone a postos para quaisquer emergências. Viagens? Lembre dos filhos, não pode mais ir a qualquer lugar. Depois de certa idade, custa passagem. E ficam no mesmo quarto de hotel, adeus liberdade (...). Alugou carro? Não esquece a cadeirinha. Mala extra. Ou seja, filho muda sua rotina, sua vida passa a ter uma criança inserida em todo planejamento, logo, acabou a liberdade. Ok, se você entrar em um relacionamento, boa parte destes pontos também ocorre. Mas para mim, essa é uma análise simplória e equivocada de liberdade, onde a responsabilidade e compromisso são denominados privação de liberdade. Meu caro, um ponto, trabalho faz o mesmo.

Pensamento equivocado por que? Como falei lá no início da postagem, ao ler a frase revi todo meu passado e cheguei a conclusão de que hoje, mesmo "preso" com toda responsabilidade do bebê, me sinto mentalmente mais livre em relação ao mundo. Coisas antes que eram grandes questões para minha vida se tornaram quase irrelevantes. Exemplos? Ano passado teve show no meu estado do Phil Collins. Com a crise no estado, eu provavelmente não iria conseguir ir ao show tendo filho ou não (e ir ao show do Collins era um sonho), e me peguei pensando como iria ficar irritado de não ter ido ao show antes de ter filho. Antes me prendia a idéia específica de trabalho, hoje sei que não tenho mais estas amarras, se tiver uma oportunidade melhor em outra área, abraço. Interações sociais (o parte complicada), querer agradar as pessoas, manter relações que no fundo não são boas, a gente corta fácil, e damos atenção a quem realmente merece.

É verdade que ter filhos demandam compromisso e afetam seu tempo, dando sensação a quem está de fora de que estamos presos. É verdade que deixamos de fazer coisas que gostaríamos por causa do horário de soninho. Mas é mentira que estamos presos, a mente livre vale mais que toda atitude que denote liberdade. E hoje, como pai, posso falar que minha mente é mais livre que antes de ter nossa criança. 

Um comentário:

  1. Túlio, me senti contemplada em suas palavras. Sempre me perguntavam como eu aguentava a maternidade e tal. Algumas "amigas" ainda batem nessa tecla da liberdade, mas seguem presas aos compromissos sociais e profissionais, sem o saldo afetivo e libertário dessa relação com os filhos. Obrigada pela paritlha de ideias. Lembranças à família, beijo ��

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